Entenda a importância da Taxa Selic e como ela afeta a sua renda hoje
A cada 45 dias esse nome aparece nas manchetes de jornal, no noticiário da TV, nos sites e redes sociais. Você pode não saber, mas essa pequena sigla é capaz de influenciar o preço dos produtos no supermercado, os juros dos empréstimos e até os investimentos.
Mesmo sendo tão importante e tão falada, muitas pessoas não sabem o que é a Taxa Selic (acredite, não saber isso é mais comum do que você pode imaginar). Pensando nisso, criamos esse guia completo para te explicar sobre a Selic, sua utilidade e como ela influencia a sua vida diariamente, mesmo sem você perceber.
O que é a Taxa Selic?
A Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira, sendo o principal instrumento de política monetária usado pelo Banco Central do Brasil no controle da inflação, além de impactar todas as taxas de juros do país, como as que incidem em empréstimos, financeiros e investimentos.
A sigla significa Sistema Especial de Liquidação e de Custódia. Esse sistema é uma infraestrutura do mercado financeiro administrada pelo Banco Central onde são operados títulos públicos federais. A Taxa Selic é justamente a taxa média ajustada dos financiamentos realizados nesse sistema.
A Selic foi criada em 1979 pelo Banco Central e pela Andima (Associação Nacional das Instituições do Mercado Aberto) inicialmente como o Sistema Especial de Liquidação e de Custódia, onde o Governo Federal coordenaria a compra e venda de títulos públicos, enquanto a média de operações feitas representaria a taxa Selic.
Apesar de ter sido criada na década de 1970, a Selic só foi adotada como a taxa única para nortear os outros índices de juros do país em 1999, quando o regime de bandas cambiais foi extinto pela equipe econômica.
Como a Taxa Selic funciona?
A Taxa Selic hoje funciona como uma espécie de reajuste das taxas de juros, que impactam no mercado financeiro, além de influenciar no consumo das famílias, na inflação e novo lume de dinheiro existente no mercado. Os efeitos da Selic variam quando ela está alta ou baixa.
Selic alta
Quando a taxa de juros é reajusta para cima, os empréstimos e operações do tipo são impactados rapidamente, já que, com os juros mais altos, o crédito fica mais caro. Essa situação também desestimula o consumo da população, diminui a demanda do comércio e, com menos pessoas comprando, os preços tendem a cair. Tudo isso contribui para uma menor circulação de dinheiro no mercado e para o controle da inflação.
Uma alta na Selic é também uma boa notícia para os investidores em Renda Fixa, já que muitas aplicações têm seus rendimentos atrelados à taxa básica de juros. Entre os exemplos mais famosos estão o CDB, a LCI e a LCA.
Selic baixa
Enquanto um aumento na taxa básica ajuda a conter o consumo e inflação, uma redução da Selic tem justamente o efeito contrário. Com os juros mais baixos, o crédito se torna mais barato e a população tende a consumir mais.
Com isso, a economia é aquecida e tanto a indústria quanto o comércio e os serviços faturam mais. Todos esses fatores podem desencadear um aumento na inflação, por isso o Banco Central precisa ficar atento para evitar o consumo exagerado e uma possível alta nos preços.
O que acontece quando a Taxa Selic cai?
Com a baixa da Selic, os investimentos em renda fixa acabam ficando com rendimentos menores e perdem parte da atratividade. Com isso, muitos investidores preferem aplicar seu dinheiro em ações ou outras opções de renda variável que ofereçam melhores retornos.
Vale lembrar que entre 2020 e 2021, quando a Selic chegou a alcançar sua mínima histórica (assim como outras taxas de juros ao redor do mundo), os investimentos em startups brasileiras bateram recorde.
Com o aumento progressivo do índice de juros e o encarecimento do crédito, os investidores migraram para a renda fixa e os aportes em empresas do tipo diminuíram. Esse fenômeno está sendo chamado de "Inverno das Startups".
Quem define a Taxa Selic?
A taxa básica de juros (ou Selic Meta) é definida pelos membros do Copom (Comitê de Política Monetária), órgão fundado em 1996 pelo Banco Central. A cada 45 dias, o presidente do BCB e representantes de várias áreas da entidade se reúnem durante dois dias para analisar dados apresentados por departamentos do órgão.
Após a análise da conjuntura econômica do país, a taxa é definida e divulgada ao fim do segundo dia do encontro. Cerca de seis dias após a definição da Selic, o Copom divulga a ata dessa reunião, na qual é possível entender os motivos que levaram o órgão a definir o reajuste. A ata costuma mexer com a Bolsa de Valores e outros índices financeiros.
Como a Taxa Selic é calculada?
A Taxa Selic é definida em uma reunião do Comitê de Políticas Orçamentárias, enquanto a taxa Selic Over segue uma fórmula matemática, resumida pelo Banco Central como "a taxa média ponderada e ajustada das operações de financiamento por um dia, lastreadas em títulos públicos federais e cursadas no referido sistema ou em câmaras de compensação e liquidação de ativos, na forma de operações compromissadas".
Suponhamos que em um determinado dia, cinco instituições financeiras realizem operações de empréstimos interbancários dentro do Selic. Cada instituição oferta um volume de recursos e informa a taxa de juros pela qual está disposta a emprestar. O Banco Central coleta esses dados e calcula a média ponderada das taxas, considerando o volume financeiro de cada instituição.
Por exemplo:
- Instituição A: Empréstimo de R$ 100 milhões a uma taxa de 6% ao ano
- Instituição B: Empréstimo de R$ 80 milhões a uma taxa de 5,8% ao ano
- Instituição C: Empréstimo de R$ 120 milhões a uma taxa de 6,2% ao ano
- Instituição D: Empréstimo de R$ 150 milhões a uma taxa de 5,9% ao ano
- Instituição E: Empréstimo de R$ 90 milhões a uma taxa de 6,1% ao ano
Nesse exemplo hipotético, o Banco Central calcula a média ponderada das taxas:
Média Ponderada = [(100 milhões * 6%) + (80 milhões * 5,8%) + (120 milhões * 6,2%) + (150 milhões * 5,9%) + (90 milhões * 6,1%)] / (100 milhões + 80 milhões + 120 milhões + 150 milhões + 90 milhões)
Após o cálculo, o Banco Central divulga a Taxa Selic diária, que será utilizada como referência para diversas transações financeiras no mercado. É importante ressaltar que os valores reais podem variar e devem ser obtidos a partir de fontes oficiais e atualizadas, como o próprio Banco Central do Brasil.
O que é a Taxa Selic Meta?
É a taxa básica de juros definida nas reuniões do Copom e amplamente divulgada pela imprensa. Como nós explicamos, o índice tem o objetivo de regular todas as outras taxas de juros do país e influenciar na atividade econômica. Sua variação depende de como os membros do comitê enxergam a conjuntura econômica do país no momento e nos próximos meses.
O que é a Taxa Selic Over?
A Selic Over tem relação com o Sistema Especial de Liquidação e de Custódia, onde são transacionados os títulos públicos.
Por lei, todos os bancos têm que colocar parte dos depósitos recebidos em cada dia para uma conta do Banco Central, onde o órgão controla a quantidade de dinheiro em circulação. Com milhões de transações diárias, muitos bancos terminam o dia sem depositar a quantia determinada pelo BCB, enquanto, por outro lado, algumas instituições possuem mais do que o necessário.
Sendo assim, as financeiras superavitárias fazem empréstimos rápidos para aquelas deficitárias, com o valor sendo pago, normalmente, no dia seguinte. Com esses empréstimos, as instituições conseguem atingir o valor de depósitos definido pelo BCB. A Selic Over é justamente a taxa média dessas operações entre bancos.
Como a Taxa Selic impacta os investimentos?
A taxa Selic, influencia todas as outras taxas praticadas no país e também afeta os rendimentos de diversos investimentos de forma direta ou indireta. Entre eles, estão:
Caderneta de Poupança
Desde 2012, quando passou por mudanças, a Poupança ganhou duas modalidades de rendimento: quando a Selic fica acima de 8,5%, os depósitos rendem 0,5% ao mês + TR (Taxa Referencial), índice criado em 1990 e que já serviu para definir os juros do país. Já nos momentos em que a Selic fica abaixo de 8,5%, os rendimentos da poupança equivalem a 70% da taxa Selic.
Tesouro Direto
Os títulos do Tesouro Direto, que são basicamente um empréstimo feito por você para o Governo Federal, são afetados pela taxa básica de juros de duas maneiras: de forma direta, quando sua aplicação estiver atrelada a Selic; ou de forma indireta, quando o rendimento do título for definido pela Selic em conjunto com outros índices (como o Tesouro IPCA+ e o Tesouro Pré-fixado).
No caso das aplicações como o Tesouro Selic, quanto maior a taxa básica de juros, maior o rendimento.
Investimentos de Renda Fixa
Além da Poupança e do Tesouro Selic, outros tipos de investimentos em renda fixa são impactados pelas variações da Selic. O CDI (Certificado de Depósito Interbancário), que influencia a rentabilidade do CDB, LCI e LCA, costuma a ter o valor próximo da taxa básica de juros. Ou seja, o CDI pode mudar caso a Selic aumente ou caia.
Da mesma forma, os títulos atrelados ao IPCA, que é o índice da inflação, são impactados pelas variações da Selic, que é usada justamente para controlar a alta de preços.
Qual é a relação entre Selic e CDI?
O CDI (Certificado de Depósito Interbancário) é um título emitido por um banco como garantia de empréstimo tomado junto a outro banco. Assim como a Selic, o CDI também é um indexador de juros de investimentos em renda fixa relacionado com as transações interbancárias.
O CDI costuma ficar pouco abaixo do índice da Selic e é referência no cálculo do rendimento de vários investimentos, como CDB, LCI e LCA.
Qual é a relação entre Selic e IPCA?
O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) é o índice oficial da inflação no Brasil, calculado a partir da pesquisa de preços de produtos e serviços nas principais áreas urbanas do Brasil. A relação da Selic com o IPCA influencia indiretamente as aplicações atreladas à inflação.
À medida que a Selic sobe e a inflação diminui, o IPCA cai. Por outro lado, quando a Selic está em baixa, o consumo cresce e a inflação tende a subir, o que gera um aumento no IPCA.
Perguntas frequentes sobre a Taxa Selic
É a taxa básica de juros que tem o objetivo de regular todas as outras taxas de juros do país e influenciar na atividade econômica do país. A Selic é considerada o principal instrumento de política monetária do Banco Central para o controle da inflação, além de impactar todas as taxas de juros do país, como as que incidem em empréstimos, financeiros e investimentos.
A Selic Meta é a taxa definida a cada 45 dias pelos membros do Copom. Ela é determinada a partir da análise de indicadores do Banco Central e da análise da conjuntura econômica do país. Já a Selic Over surge a partir da taxa média dos empréstimos realizados entre bancos para garantir o depósito mínimo definido por lei pelo Banco Central.