Na reunião do Copom em janeiro, a taxa Selic foi mantida em 2%, mas o colegiado não mais espera que ela fique nesse patamar tão baixo por prazo indeterminado. De fato, podemos ter nos próximos meses o início de um novo ciclo de alta da taxa básica de juros, mas como o próprio Banco Central coloca, ainda temos um cenário de bastante incerteza.
A última alta da Selic foi em julho de 2015, quando a inflação estava em 10% ao ano, e a taxa chegou a 14,25%. De lá para cá tivemos 3 ciclos de queda de juros: o primeiro que se encerrou em março de 2018, com a Selic em 6,5%, o segundo, em dezembro de 2019, quando a Selic chegou em 4,5%. Com a crise da pandemia, a taxa foi novamente reduzida de maneira extraordinária para 2% em julho de 2020.
A política monetária expansionista foi aplicada à medida que a inflação foi sendo reduzida e em vários momentos permaneceu até abaixo do centro da meta. Mesmo que com algumas altas temporárias, devido a choques de ofertas, as medidas de núcleo de inflação, que excluem os itens mais voláteis, ficou em torno de 2% nos últimos anos, o que é muito positivo para a estabilidade da moeda.
Quais serão os próximos passos da política monetária nacional?
A economia brasileira ainda enfrenta alguns riscos que podem tanto elevar a inflação como mantê-la abaixo da meta, e é essa definição de cenário que o Copom deve avaliar ao longo dos próximos meses para decidir os próximos passos. Por um lado, o fim do auxílio emergencial e outras medidas de estímulo usadas em 2020, juntamente com a ressurgência da segunda onda do Coronavírus podem causar uma desaceleração da economia nos primeiros meses do ano. Sendo assim, manter os juros em um patamar mais baixo será mais apropriado para o momento de transição.
Em contrapartida, a chegada da vacina deve elevar a mobilidade. Com isso, a recuperação econômica tende a ser mais rápida, provavelmente a partir do 2º trimestre.
O setor de serviços, que foi o mais impactado durante a pandemia devido as restrições, pode voltar a crescer de maneira mais significativa nos próximos meses. Esse crescimento econômico deve manter a inflação próxima da meta, que esse ano é de 3,75%.
Em 2022, o Banco Central pode começar a retirar os estímulos e elevar a taxa de juros para um patamar mais neutro, entre 5% e 5,5%.
E a inflação?
Um dos principais riscos para o cenário de inflação ainda é o risco fiscal. Como já vimos nos últimos meses a incerteza com relação a política fiscal brasileira tende a elevar a taxa de câmbio, que já acumula uma desvalorização de 30% nos últimos 12 meses.
Apesar de boa parte dessa alta não ter sido repassada para os preços ao consumidor, principalmente os serviços, a continuidade da desvalorização poderia sim gerar mais inflação. Como o orçamento de 2021 ainda não foi aprovado, ainda monitoramos a possibilidade de um aumento de gastos como a extensão do auxílio sem redução de despesas, o que sinalizaria um novo aumento da dívida pública, enfraquecendo o câmbio e elevando as expectativas de inflação.
O cenário de incertezas requer cautela por parte do Banco Central. Pelos próximos meses, a taxa Selic deve continuar em 2%, mas a recuperação econômica deve resultar na necessidade de um pouco mais de juros na economia, para que a inflação não suba além da meta. Ainda assim, a alta será gradual e espera-se juros bem menores que historicamente no Brasil.
*Esta coluna foi escrita pela Economista-Chefe do Inter, Rafaela Vitória. Acompanhe ela também pelo twitter @rvitoria e pelo podcast Inter Invest.