O IBGE divulgou o resultado do PIB de 2020 e tivemos uma queda histórica da atividade econômica no Brasil: 4,1% no ano. Mas essa é uma crise bem diferente de outras passadas e um único número não conta toda a história do ano de 2020.
O resultado do ano é calculado usando a média do PIB dos quatro trimestres, comparando com o mesmo período de 2019. No entanto, o ano de 2020 foi marcado por uma queda forte de 10% no 2º trimestre, seguida de uma recuperação também significativa de 7% no 3º trimestre, e 3% no 4º trimestre.
Esse comportamento é bastante atípico de uma recessão econômica que normalmente sofre quedas menores, mas por períodos mais prolongados. Como recessões são causadas por excessos, por demanda super aquecida ou muita oferta de crédito, essa correção leva mais tempo para acontecer.
Sendo assim, dá para dizer que a crise causada pela pandemia tem características diferentes de um ciclo econômico típico, uma vez que as restrições ao consumo são causadas por fatores externos e restrições à mobilidade e contato social, que podem ter um retorno rápido quando a economia reabre, como vimos entre os meses de setembro e dezembro, ainda que parcialmente. É como se a economia estivesse em “suspensão” e assim, a velocidade da recuperação é bem mais rápida do que em outras recessões.
Entender essa dinâmica é fundamental para traçarmos as perspectivas de recuperação da economia e até mesmo para entendermos como as políticas fiscais e monetárias podem contribuir nesse processo, principalmente nesse momento que voltamos a ter novas restrições devido à segunda onda da pandemia.
O que esperar para os próximos meses?
A deterioração do cenário atual com novo aumento de novos casos e ainda lenta progressão da vacina, deve resultar em nova retração da economia entre os meses de fevereiro e março de 2021. Entretanto, como observado em outros países, a queda não deve ser tão significativa ou tão longa como foi na primeira onda no ano passado. Um dos motivos é o maior conhecimento de protocolos de segurança que permitem que atividades que representam pouco risco funcionem como a produção industrial e o varejo online.
Outra diferença é o avanço da vacinação que deve se intensificar a partir de abril com a chegada de um volume maior de doses, principalmente com o início da produção da Fiocruz que terá capacidade para entregar mais de 1 milhão de doses por dia. A vacinação, que iniciou com os grupos de risco, permitirá nos próximos meses a queda na ocupação do sistema de saúde e a volta gradual das atividades que dependem de maior mobilidade e contato social.
Como vimos em outros países, e até mesmo aqui no Brasil no semestre passado, a redução das restrições podem já resultar em uma recuperação mais robusta da atividade, principalmente dos setores de serviços, que são importantes geradores de emprego.
Outro fator importante na recuperação econômica em 2021 são as medidas fiscais como o auxílio emergencial, que foi importante na retomada econômica ao longo do segundo semestre de 2020, e agora deve voltar com a nova aprovação no congresso. A recomposição de renda das famílias mais afetadas é fundamental, tanto do ponto de vista social como econômico.
Entre setembro e dezembro de 2020, o setor de varejo teve desempenho significativo impulsionado pelas medidas de estímulo e pela volta da confiança. Em suma, a combinação de controle da pandemia e novos estímulos fiscais vão contribuir para a recuperação da economia ao longo de 2021.
Mas o cenário ainda é desafiador e nesse ano, temos novos riscos a serem enfrentados. O principal deles é a volta da inflação. Com a desvalorização cambial e o aumento dos preços das commodities no mercado internacional, que impactam os preços dos alimentos e da gasolina, a inflação é uma preocupação adicional para o Banco Central, que pode ter que subir os juros mesmo no cenário de ainda elevada taxa de desemprego.
Por esse motivo, é fundamental o governo sinalizar que novos pacotes de auxílio fiscal no curto prazo serão seguidos de reformas estruturantes, que visam no médio prazo a contenção do crescimento dos gastos públicos e com isso sinalizam para os investidores a redução do risco Brasil.
Ter inflação controlada e juros baixos é fundamental para o crescimento tanto em 2021 como em diante.
*Esta coluna foi escrita pela Economista-Chefe do Inter, Rafaela Vitória. Acompanhe ela também pelo twitter @rvitoria e pelo podcast Inter Invest.