A taxa Selic é a taxa de juros básica da nossa economia e influencia o rendimento dos investimentos, tanto dos títulos do governo como das aplicações nos bancos e também no custo dos empréstimos. Atualmente, a Selic está fixada em 4,25% (julho de 2021).
E para entendê-la, é importante ter em mente como funciona a política monetária e como ela é importante para a economia. A Selic é uma taxa anual, mas os rendimentos atrelados a ela são diários. Ou seja, quando a Selic sobe ou desce, o rendimento também altera. Por isso ela é considerada uma taxa pós fixada.
A história da Selic
A taxa Selic foi criada em 1979 pela Andima (Associação Nacional das Instituições do Mercado Aberto) e pelo Banco Central. No entanto, até muito depois da sua criação, essa não teve a mesma importância que atribuímos a ela hoje.
Após o Plano Real, foi instituído o regime de Bandas Cambiais, em 1995. Esse tinha como principal função manter o câmbio dentro de determinados intervalos pré-definidos no intuito de garantir que o real permanecesse apreciado (com maior valor perante às outras moedas) e, consequentemente estimular a importação, o que ajudaria na redução da inflação. Até a época, o governo utilizava um intervalo de taxas (TBAN e TBC) para indicar a taxa básica do país.
No entanto, em 1999, o regime de bandas cambiais foi extinto. No ano, o governo criou o regime de metas de inflação e definiu que a taxa Selic seria a única taxa para indicar os juros do país.
Selic Meta
A Selic Meta é definida pelo COPOM (Comitê de Política Monetária), reunião a cada 45 dias da qual participam o presidente e os diretores do Banco Central. Para entender como a Selic afeta a economia, devemos entender o que uma mudança na Selic gera na tomada de decisão dos agentes econômicos, investidores e empresas.
Quando a Selic está mais baixa os bancos captam a taxas menores, assim conseguindo emprestar a taxas menores. Dessa forma, há maior demanda por crédito, o que aquece a economia. Além disso, investidores alocam mais capital em investimentos mais arriscados. Por exemplo, um individuo que antes conseguia uma taxa de 14,5% em títulos públicos, agora vê maior vantagem em abrir seu próprio negócio, já que os títulos pós-fixados somente rendem 2,75%. Por fim, os indivíduos decidem em média poupar menos, dado que agora os valores poupados rendem juros menores. Assim, concluímos que a Selic mais baixa estimula e aquece a economia, gerando maior crescimento econômico. Mas aí vem a pergunta... por que não deixar a Selic o mais baixa possível?
Pois bem, a teoria econômica mostra que o custo da diminuição da Selic, que se traduz como aumento da oferta monetária, é a inflação, que é a redução do poder de compra através do aumento de preços. Quando o estímulo monetário acontece (queda da Selic), o aumento da demanda gera consequente aumento de preços, que faz com que os salários dos indivíduos consigam comprar menos bens do que anteriormente. Ou seja, quando o Banco Central sobe a taxa básica da economia (que você já sabe que é a Taxa Selic Meta), esse pretende desacelerar a economia, de forma a controlar a inflação.
Selic Over
Como dito anteriormente, alguns dos entes privados que compram dívidas do governo são as instituições financeiras. Mas porque essas compram títulos públicos?
As instituições devem seguir a lei de que parte dos depósitos recebidos em cada dia têm que ir para uma conta do Banco Central. Dessa forma, esse último consegue controlar a quantidade de moeda (dinheiro) em circulação.
Contudo, devido ao fato que as instituições financeiras fazem milhões de transações todos os dias, no final de cada dia, algumas acabam por depositar menos que o necessário para o Banco Central, enquanto outras têm sobra.
Assim, as instituições se organizam entre si de forma que as superavitárias de reservas emprestem para as deficitárias. A partir disso, definimos a Selic Over: essa é a taxa média das operações entre bancos (chamadas também de operações interbancárias). Por sua vez, os bancos deficitários utilizam os títulos públicos como garantia e esses títulos servem como “benchmark” para definir a Selic Over.
Recapitulando, os bancos devem fazer empréstimos entre si utilizando a Selic Over que depende da taxa dos títulos públicos que, por fim, é baseada na Selic Meta.
Como a SELIC impacta os investimentos?
A taxa SELIC é a taxa de referência para diversos investimentos, portanto, a sua mudança impacta os rendimentos desses. Por exemplo:
- Títulos Pós-Fixados: esses são títulos que tem sua rentabilidade atrelada a uma variável econômica: quando a variável econômica sobe, esses também pagam mais juros e, quando essa tem queda, esses pagam menos juros. Os títulos pós-fixados atrelados a Selic ou em % do CDI, portanto, seguem o mesmo padrão e passam a pagar mais quando a Selic está mais alta. Para mais, esses podem ser públicos, como LFTs (também conhecidos como Tesouro Selic), ou privados, como alguns LCI, LCA, LC, CDB, CRI, CRA e Debêntures.
- Caderneta de Poupança: a rentabilidade da poupança também é diretamente afetada pela taxa Selic. Segundo a nova regra estabelecida em 2012, quando a taxa Selic é maior que 8,5% a.a., a poupança tem um rendimento de 0,5% ao mês + TR, caso contrário, a poupança tem rendimento equivalente a 70% da Selic vigente no período. Atualmente, nos enquadramos no segundo caso e a poupança tem rendimento de 1,93% ao ano.
*Esta coluna foi escrita pela Economista-Chefe do Inter, Rafaela Vitória. Acompanhe ela também pelo twitter @rvitoria e pelo podcast Inter Invest.